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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

" Rocinha " uma história carioca

Na trajetória da Rocinha, uma história carioca

Depois da pacificação, a favela tem o desafio de consolidar conquistas que podem sinalizar um novo caminho para o Rio de Janeiro

Cecília Ritto
Uma chácara foi a primeira a ocupar o morro onde se constituiu a favela da Rocinha Uma chácara foi a primeira a ocupar o morro onde se constituiu a favela da Rocinha (Reprodução Rocinha Blog)
O morro entre a Gávea e São Conrado abrigava uma chácara, nos anos 1920. A localidade pacata era de onde partiam os agricultores rumo aos arredores do Hipódromo da Gávea, onde vendiam o que haviam plantado. Quem por lá passava e perguntava de onde vinha o alimento recebia como resposta: “Vem da rocinha”. Essa é a bucólica origem do nome da favela mais famosa do Rio de Janeiro, que tem hoje 120 mil habitantes e, na esteira de décadas de descaso do poder público, tornou-se um bolsão de pobreza onde, a partir dos anos 1980, traficantes se refugiaram e construíram a maior rede de distribuição de drogas da zona Sul da cidade.
A trajetória da Rocinha é um retrato do que aconteceu no resto do Rio de Janeiro. A ocupação acelerada do morro aconteceu na década de 1950, com a chegada em massa de nordestinos. Eram pessoas pobres que viviam, sobretudo, da pecuária e da agricultura. Para manter essa atividade em terra carioca, os moradores da Rocinha tinham pequenas plantações e criação de animais no redor da casa. Pela localização, próxima a bairros de classe média que representavam oportunidades de trabalho, a Rocinha acabou atraindo famílias de outras regiões do Rio. Passada uma década, em 1960, não havia mais espaço para horta alguma. Com a abertura do Túnel Zuzu Angel, que liga a Gávea a São Conrado, muitos trabalhadores acabaram por se mudar para a favela.
Genílson Araújo/Ag.OGlobo
O alto da Rocinha, entre as casas de luxo da Gávea e os prédios da orla de São Conrado
O alto da Rocinha, entre as casas de luxo da Gávea e os prédios da orla de São Conrado
A Rocinha cresceu no mesmo ritmo em que toda a cidade se favelizou, na esteira da ausência de política habitacional e de transporte. Tornou-se, assim como as demais favelas, uma terra abandonada pelo estado, porém cobiçada por políticos acostumados a trocar votos por benfeitorias que deveriam ser responsabilidade dos governos. Assim como no Nordeste, em que a indústria da seca garantiu por décadas a permanência da miséria no sertão, criou-se no Rio uma indústria da favela capitaneada por políticos populistas – que têm no ex-governador Leonel Brizola seu mais bem acabado exemplo.
Nas duas gestões de Brizola, criou-se a lenda de que favela não é problema, e sim solução. Com base nessa maneira de mais uma vez tirar do poder público a responsabilidade por implementar políticas habitacionais e de transportes, distribuíram-se títulos de propriedade a rodo e adotou-se todo tipo de ação assistencialista. Para piorar a situação, sucessivos governos restringiram a ação da polícia nas favelas, transformando-as em verdadeiros bunkers do crime.
Hoje, a Rocinha é uma região administrativa do Rio – ou seja, deveria estar incluída nos marcos da cidade legal, com direito a todos os serviços básicos. Mas continua padecendo de graves problemas de infraestrutura, como coleta de lixo, abastecimento de água, falta de rede de esgoto. Segundo o censo residencial da Rocinha, feito pelo Escritório de Gerenciamento de Projetos do governo do Rio, apenas 31,1% das pessoas têm a sua rua toda pavimentada. Somente 1,8% das casas da favela podem ser acessadas por carro. Para chegar a todas as outras, é necessário passar por um beco, escadaria ou uma rua onde só é possível o trânsito de pedestres. A iluminação pública só chegou para metade da favela.
De 2007 a 2009, foi criado um plano diretor sócio-espacial da Rocinha. O arquiteto que coordenou a equipe responsável pela execução do projeto foi Luiz Carlos Toledo, que chegou a montar um escritório na favela, onde ficou durante um ano e meio. Com os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi dado o pontapé em alguma das obras propostas por Toledo. “Mas persistem os principais problemas, que são saneamento, esgoto, lixo, abastecimento de água e retirada de habitação em área de risco”, afirma Toledo.
A entrada efetiva da polícia na Rocinha é uma oportunidade para que os serviços cheguem, na escala necessária, aos milhares de moradores. É também a chance de acabar com o poder dos criminosos que dominam a área por quase quatro décadas. O retrato da Rocinha pode ser, a partir de agora, o retrato do que o Rio de Janeiro quer ser.

" Leblon " História

A restinga hoje ocupada pelo bairro do Leblon já era habitada desde priscas eras. Há provas que os primeiros agrupamentos indígenas assentaram naquela região por volta do século VI.
Um mapa francês de 1558 situa a aldeia tamoia no Leblon (aldeia "Kariané").
No ano de 1575 assume o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul do Brasil o Governador Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586). Salema era um jurista formado em Coimbra, e que odiava os índios. Antônio Salema, em seu mandato de três anos (1575-1578) descobriu uma lei editada pela Metrópole isentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana de açúcar no Brasil. Inclusive, desde 1573, já existia um pioneiro engenho de cana em Magé, erguido pelo seu antecessor no governo, o Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros. Salema decidiu pura e simplesmente extinguir os índios tamoios das aldeias da Lagoa, Ipanema e Leblon para lá erguer seu engenho, que seria movido à água, muito abundante haja vista os inúmeros córregos no local ("Macacos ", "Rainha", "Iglésias", etc.). Mandou jogar no mato adjacente à Lagoa diversas mudas de roupas de doentes de varíola. Os índios pegaram as roupas, vestiram, pegaram varíola por contágio e morreram. Foi a primeira guerra bacteriológica nas Américas...
Onde hoje está o Jardim Botânico, mandou erigir um engenho de cana, ao qual denominou "D`El Rei". O engenho não deu certo de início e em 1584 foi sugerida sua venda. Quatorze anos depois, ele foi vendido ao Vereador Diogo de Amorim Soares, vindo da Bahia (1558?-1609?), que o rebatizou de "Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa". Soares, retirando-se da cidade em 1609, revendeu as terras no ano anterior a seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural de Viana do Castelo (1563-1639), casado com sua filha Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).
Fagundes logo ampliou as instalações do engenho e, para tal, cobiçou para sua empresa os terrenos de marinha. Os primeiros proprietários das praias da zona sul carioca, afora os índios tamoios, foram poucos portugueses. Em 1603 Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634), vereador em 1619, casado com Da. Inês de Leão, obteve enfiteuse de terras que iam do engenho de Diogo de Amorim Soares (Lagoa) até a "costa brava" (Leblon), correndo até a Gávea (Vidigal). Em 1606, Afonso Fernandes e sua esposa, Da. Domingas Mendes obtiveram carta de sesmaria da câmara que lhes davam o aforamento de "300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a Praia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse". Eram todos os terrenos de marinha do Leme ao atual Leblon. Pagavam foro de 1000 réis.
Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassa esse aforamento a Martim de Sá (1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08, e 1623/32), filho do então ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos (1542-1631, governou em 1568/72 e 78/98) para benefício do engenho que o mesmo possuía na Lagoa. Esse engenho, denominado de "Nossa Senhora das Cabeças", não foi adiante, haja vista que Martim estava erguendo outro maior em terras que obtivera na aldeia de "Guaraguassú Mirim" (atual Barra da Tijuca). O aforamento então foi sendo aos poucos repassado, sucessivamente em 22 de junho de 1609, das terras que iam desde o Pão de Açúcar até a "Praia Brava" (Leblon); em 23 de setembro de 1611 (mais terras ); em 19 de julho de 1617 (para aumento de pastos); e em 1619 ao dono do "Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa", Sebastião Fagundes Varela. O aforamento era por 9 anos e tinha mais 400 braças para o sertão, permitindo a Varela explorar para pasto e extração de madeiras para seu engenho.
Varela ficou assim, aos poucos , dono de todas as terras que iam do Humaitá ao Leblon. A extensão de suas posses abrangiam 1700 braças de testada e 4.500.000 braças de área, que englobava a atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Os terrenos pagavam foro de 6$400 réis ao "Senado da Câmara". Esse latifundiário criava gado nessas praias, onde suas vacas pastavam entre cajueiros, ananases e pitangueiras.
Em 1702, a herdeira de Varela, sua bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), era uma solteirona de trinta e um anos, numa época em que as mulheres casavam com doze, ou até menos idade. Petronilha casou-se com um jovem oficial de cavalaria, Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba, Freguesia de SamPayo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães. Ele com dezesseis anos. Alguns anos depois, em 1717, Rodrigo de Freitas, já viúvo, voltou para Portugal, onde passou a residir em sua quinta de Suariba. Lá morreu viúvo em 1748. Sua enorme fazenda, que englobava a Lagoa que lhe acabou por herdar o nome (e, igualmente, eternizar na topografia carioca o "golpista do baú" mais bem sucedido em nossa cidade...), será arrendada a particulares, ficando decadente até princípios do século XIX.
Nada existia edificado. Ainda em 1645, o Governador Duarte Corrêa Vasqueanes proibira aos pescadores que edificassem suas casas na praia, com medo de um desembarque holandês para tomar o Rio de Janeiro.
Em 1808 o Príncipe D. João manda desapropriar o engenho da Lagoa por decreto de 13 de junho, com o fito de alí instalar uma fábrica de pólvora, aproveitando-se os terrenos circundantes para neles criar o Real Horto Botânico, origem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ele visitou essas terras em janeiro de 1809, sendo mal recebido pelos escravos e feitor do engenho, que abaixaram as calças à sua passagem. D. João ordenou depois a prisão dos escravos e a perda de todas as mercês e benesses ao feitor e proprietários daqueles chãos.
Era herdeira daquelas terras Da. Maria Leonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), filha de Rodrigo de Freitas Mello e Castro (1740-1803), e bisneta do primeiro Rodrigo de Freitas. Procedeu-se a avaliação da propriedade e a indenização. Julgada a adjudicação por sentença de 30 de janeiro de 1810, foi estipulada a quantia, sendo as terras incorporadas aos próprios nacionais, com as formalidades da lei de 28 de setembro de 1835. Da. Maria Leonor recebeu por estas terras R$: 42:193$430 contos de réis, pagos após a Independência em 1826. Os terrenos de marinha, que não interessavam aos propósitos do Jardim Botânico, foram repassados.
Toda a orla marítima da zona sul, possuía então o nome de "Fazenda de Copacabana", e foi adquirida em 1808 por Da. Aldonsa da Silva Rosa, uma chacareira. Da. Aldonsa não ficou muito tempo com ela, tendo-a revendido em 1810 ao português Manoel dos Santos Passos, que, ao morrer, legou em testamento para seu sobrinho Antônio da Costa Passos, ficando com elas até 1819. Antônio, assim com o seu tio, legou as terras em testamento para seu filho, João da Costa Passos. João era, em 1827, administrador da Capela de Nossa Senhora de Copacabana, na Ponta da "Igrejinha", erguida antes de 1746 (provavelmente em 1732) e depois demolida. João não ficou, entretanto, muito tempo com suas terras de Ipanema, vendendo-as em 1820 para Inácio da Silva Melo. Inácio, ao morrer em 1843, deixou tudo para dois sobrinhos, Francisco da Silva Melo e Francisco Nascimento de Almeida Gonzaga e eles logo depois venderam tudo em 1844 para Bernardino José Ribeiro. Ano seguinte, Bernardino vende tudo ao empresário francês Carlos Leblon o qual instalou no final da praia sua fazenda (que seria conhecida como "O Campo do Leblon") e empresa de pesca de baleias, a "Aliança".
O negócio ia bem, pois das baleias "espermacetes" do gênero "cachalote", abundantes em nossos mares, extraía-se o famoso óleo, que era usado não só como "concreto" em nossa construção civil, muito estimulada pelo crescimento da cidade no Segundo Império, como igualmente servia como combustível para iluminação, atividade incrementada por D. Pedro II, que mandou ampliar a iluminação pública das ruas do Rio por lampiões de óleo de baleia, principalmente depois de sua ascensão ao trono em 1841.
A pesca fazia-se não só de barcas baleeiras, apelidadas de "Alabamas" por provirem tais naves deste estado americano, como também do alto das pedras da praia, que por este motivo apelidou-se "Arpoador".
Em 1851, Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (1813-1889), iniciou as obras para poder proceder à iluminação à gaz no Rio de Janeiro, com os primeiros postes na rua Direita, atual Primeiro de Março. Em 25 de março de 1854 foi inaugurado este serviço, atingindo outros bairros além do Centro. Com isso, caiu o negócio da pesca de baleias no Rio, tendo Carlos Leblon vendido suas terras da "Fazenda Copacabana" em 1857 ao tabelião e empresário Francisco José Fialho (1820?-1885), que adquiriu a parte que ia da atual rua Barão de Ipanema, em Copacabana, até o pico dos Dois Irmãos. Fialho, envolvido em vários negócios (dentre eles a restauração do "Passeio Público"), vendeu suas terras em 1878, divididas em dois grandes lotes. A área do lote um, correspondendo ao atual bairro do Leblon foi retalhada em três grandes chácaras, vendidas a particulares, um deles o português José de Guimarães Seixas.
Ao final do século XIX, às vésperas da Lei Áurea, existiam dentro da cidade do Rio de Janeiro diversos quilombos de negros fugidos. Havia-os em Vila Isabel, Penha, Engenho Novo, bem como nas matas do Corcovado, Santa Teresa e Laranjeiras.
Destes, o mais curioso foi, sem dúvida o do Leblon ou do "Seixas".
José de Magalhães Seixas nasceu em Portugal em 1830 e com quatorze anos emigrou para o Brasil, naturalizando-se em 1875. Dedicou-se ao comércio de malas e artigos de couro, fundando casa comercial no Centro, onde amealhou fortuna. Com ela, comprou em 1878 do Tabelião Francisco José Fialho (1820?-1886) enorme chácara de dois milhões e setecentos mil metros quadrados na base do Morro Dois Irmãos, no Leblon, onde, em meio a luxuriantes jardins de camélias banhadas por regato de águas cristalinas, ergueu bonita casa. Esta ficava onde hoje existe o Clube Federal, na base do Pico dos Dois Irmãos (533m de altitude), na rua Alberto Rangel, ao final da rua Sambaíba.
Eram terras que de 1845 a 1857 pertenceram ao francês Carlos Leblon, que alí manteve uma empresa de pesca de baleias. Seixas abraçou a causa da abolição e não poucas vezes abrigou dezenas de negros fugidos numa caverna que existiu nos fundos da chácara, cuja entrada ocultava por portão recoberto de Coroas de Cristo.
Era tão bem feita a camuflagem que o quilombo escapou incólume de todas as revistas policiais.
A 13 de março de 1887, dia de seu aniversário, Seixas deu monumental festa em sua casa, convidando para o banquete a fina flor do abolicionismo. Compareceram o deputado Joaquim Nabuco, o vereador João Clapp, os jornalistas José do Patrocínio (também vereador), Luiz de Andrade, Domingos Gomes dos Santos, Campos da Paz, Luiz da Fonseca, Ernesto Senna, Arthur Miranda, Brício Filho dentre outros. No final da festa, os convidados receberam a visita de cinqüenta negros quilombolas alí acantonados, cujo líder fez tocante e inocente discurso de agradecimento. Respondeu Joaquim Nabuco com o mesmo linguajar dos escravos, bradando oração tão emocionada que levou os ouvintes ás lágrimas.
À meia noite, os convidados partiram á pé pelo "Caminho do Pau", atual rua Dias Ferreira, para pegar o bonde no "Largo das Três vendas", atual "Praça Santos Dumont", no Jockey. Foram todos es coltados pelos quilombolas, cada um munido de instrumentos musicais, flautas, gaitas, violões e cavaquinhos, num cortejo musical onde pontilhou a música negra e antecipou em quarenta anos nossos desfiles de Escola-de-Samba. Quando os convidados embarcaram no bonde, o vereador João Clapp bradou um "viva aos negros quilombolas", que foi respondido com entusiasmo.
Quatorze meses depois, quando a Princesa Isabel assinou a lei de 13 de maio que extinguiu a escravidão no Brasil, os negros do "Quilombo do Seixas" saíram da caverna, levando braçadas de camélias do jardim de Seixas, em procissão à pé até o Paço Imperial para ofertá-las à Princesa.
Há um consenso entre os pesquisadores da História do Leblon, que o nome é originário do cidadão francês, Charles Le Blon. Ele era proprietário de um trecho de terra, no local, que se estendia do final da praia à Avenida Bartolomeu Mitre até o antigo Hotel Leblon. Antes do início da Avenida Niemeyer, esta área foi conhecida até o final do século XIX como o Campo do Leblon.
O Leblon foi loteado no início do século XX.
Só em 1918 acontece a primeira ligação com Ipanema, pela praia, e depois foi feita uma ponte sobre a barra da Lagoa ligando as Avenidas Vieira Souto, em Ipanema e a Delfim Moreira, no Leblon. O Leblon não tinha luz elétrica, que só chegava a Ipanema. Havia poucas ruas, uma delas a Rua do Sapé, que ia do Largo das Três Vendas (Praça do Jóquei) até o Largo da Memória. Seria, hoje, a parte final da Avenida Bartolomeu Mitre. A rua Tubira também já existia, sendo a ligação para as areias da Praia do Zé do Pinto, que mais tarde deu lugar à favela da Praia do Sr. Pinto (depois Praia do Pinto), uma das maiores da Zona Sul do Rio.
O Largo da Memória ficava entre as ruas Tubira e Juquiá, em frente ao quartel da PM. Havia uma trilha, simples caminho de areia, que partia do Largo da Memória, seguia pela Praia do Sr. Pinto com o nome de Travessa do Pau (Rua Conde de Bernadotte) e ia em direção ao mar. Mas antes passava pela Pedra do Bahiano (atrás do Conjunto dos Jornalistas) para encontrar o Caminho da Barra, que é como se chamava a margem do Canal no Jardim de Alah.
Em 1919 a Companhia Constructora Ipanema, localizada na Rua do Ouvidor, 139 - Centro, vendia terrenos "a dinheiro ou a prestações em Ipanema e Leblon".
A planta do loteamento, aprovada pela Prefeitura do Distrito Federal em 26 de Julho de 1919 mostra as ruas do bairro com seus nomes e localização.

A planta dos loteamentos de Ipanema e Leblon quando do seu lançamento em 1919
A primeira transversal à Avenida Ataulfo de Paiva, para quem vem de Ipanema, era a Avenida Afrânio de Melo Franco, que já tinha esse nome em 1919. Em seguida temos as seguintes ruas, com seus nomes da época e os atuais:

Nome antigo, em 1919 - Nome atual
  • Rua J.Antônio dos Santos (rua 18) - Rua Rainha Guilhermina
  • Rua Aristides Espínola (rua 19) - Rua Aristides Espinola
  • Rua Rita Ludolf (rua 20) - Rua Rita Ludolf
  • Rua 21 - Rua Jerônimo Monteiro
  • Rua Dr. Del Vechio - Avenida Gen San Martin
  • Av. Ataulfo de Paiva - Av Ataulfo de Paiva
  • Av. Delfim Moreira - Avenida Delfim Moreira
  • Rua do Pau e Sapé - Rua Dias Ferreira
  • Travessa do Pau - Rua Conde Bernadotte
  • Rua José Ludolf - Rua Humberto de Campos
  • Em 1920 o Prefeito Carlos Sampaio, realizou o saneamento e embelezamento da Lagoa, a construção da Avenida Epitácio Pessoa e de dois canais distintos: o da barra comunicando a Lagoa com o mar, que hoje é o Jardim de Alah e do canal da Avenida Visconde de Albuquerque, no final do Leblon. O Leblon é uma ilha onde ao sul está o mar, o Oceano Atlântico ao Norte, a Lagoa Rodrigo de Freitas. Ligando a lagoa ao mar está o canal do Jardim de Alah à leste. Finalmente, junto ao morro Dois Irmãos estende-se o canal da Avenida Visconde de Albuquerque, que também liga a lagoa ao mar. Esse canal poluido, já foi um canal de águas claras, cheio de robalos e camarões.

    Foto de Augusto Malta detalha a praia da restinga e a travessa do Pau junto a lagoa e ao canal está a pedreira do baiano

    Em 1938 foi construída outra ponte sobre o canal ligando as duas Avenidas: Visconde de Pirajá à Avenida Ataulfo de Paiva e começou a circulação de bondes pela praia, fazendo com que as duas avenidas passassem a ser uma única via pública. O Jardim de Alah, fronteira com Ipanema, já foi um lugar muito agradável na década de 50, onde as crianças andavam de cavalos, charretes e bodinhos, onde se podia passear de barco pelas águas claras do canal, indo até quase o meio da lagoa. Os balões de gás faziam a alegria da garotada. Os cavalos cruzavam a Avenida General San Martin galopando, sem o risco de trombar com algum veículo ou precisar aguardar a luz verde de algum sinal, inexistente na época. Não havia calçamento, apenas uma rua de terra. Praia do Leblon, 18 de agosto de 1934. Foto de Augusto Malta
    Os cavalos e bodinhos descansavam numa chácara, junto a uma grande pedreira, que remotamente já foi uma ilha, onde hoje está sendo construido um Shopping, na Rua Professor Antônio Maria Teixeira (em 1960 esta rua não existia, havia uma favela).

    Década de 50 - Ônibus 12 - Estrada de Ferro-Leblon, o popular Camões
    Na Avenida Ataulfo de Paiva, 50 existem três grandes edifícios, conhecidos por Conjunto dos Jornalistas. Tem este nome porque o IAPC, que os construiu, destinou a maior parte das unidades aos jornalistas, para manter sempre um bom relacionamento com a imprensa e calar a boca daqueles que tivessem a intenção de denunciar algum fato menos sério. Alguns apartamentos foram destinados a ex-pracinhas e (aí sim) a comerciários que pagavam aluguel e estavam com ordem de despejo. Os prédios dos jornalistas eram os mais altos da região, tanto do Leblon quanto de Ipanema, constando de cartas náuticas para orientação de navios que chegavam à nossa cidade. Podiam ser vistos de toda a praia, até do Arpoador.

    Conjunto dos Jornalistas
    Nos idos de 1970, o "Clube Federal", erguido no local do "Quilombo do Seixas", abrigava outros "quilombolas ": Paulo José, Dina Sfat, Djenane Machado, Ruy Guerra, Bráulio Pedroso, Jardel Filho e todo o staff de artistas "globais ", que ainda hoje o freqüentam.

    COPACABANA e sua história

    Copacabana é o bairro mais conhecido
    do Rio de Janeiro,
    do Brasil,
    do mundo!

    A primeira lenda que se conhece sobre Copacabana, o bairro, que já tinha este nome, conta que duas baleias, encalhadas segundo alguns, livres segundo outros, teriam aparecido na praia, no final de agosto de 1858. Entre os dias 22 e 23 daquele ano, centenas de pessoas - com o imperador Pedro II e sua comitiva à frente - deslocaram-se para vê-las.
    Copacabana 1872
    Socó Boi
    Os mais ricos seguiam de coches, puxados a cavalo, e levavam um grande farnel barracas para se acomodarem. Outros iam a cavalo, ou mesmo a pé. As baleias não estavam mais lá, apesar disso, quem ficou na praia divertiu-se muito, num piquenique que durou três dias e três noites.

    Começou daí o namoro da população do Rio de Janeiro com aquele areal inóspito e insalubre, que em meados do século XVIII, trocara o nome de Sacopenapã (toda a região de Copacabana  até a Lagoa Rodrigo de Freitas), em tupi o caminho das socós (ave pernalta, da família dos ardeídeos, muito abundante nas restingas do Rio de Janeiro), por Copacabana, mirante do azul, em quichua (nativos do Peru e da Bolívia) e, também, vem do termo aymara arcaico Copakawana e significa aquele que atira a pedra preciosa.
    Igrejinha de Copacabana
    Na península de Copacabana, ao Sul do lago Titicaca, entre os países do Peru e da Bolívia existe uma capela onde está uma imagem da Virgem Maria, supostamente milagrosa. Uma réplica dessa imagem foi mandada para o Rio de Janeiro que construíu uma capela, no local onde hoje é o Posto Seis, e foi dedicada a Nossa Senhora de Copacabana, surgindo o nome do bairro.



    Entretanto, a região só foi incorporada à cidade em 6 de julho de 1892, com a inauguração provisória do Túnel de Real Grandeza, atual Túnel Velho, cujo nome correto é Túnel Alaor Prata. Nessa ocasião, com a presença do presidente, em exercício, Marechal Floriano Peixoto, foi lavrada uma ata que marcou, oficialmente, o nascimento do bairro de Copacabana.

    Esse grande melhoramento permitiu que fosse estendida uma linha de bondes, a princípio de tração animal, até a Praça Serzedelo Correia. Posteriormente, estenderam-se ramais até o Leme e o fim da Rua Nossa Senhora de Copacabana.
    Túnel Velho
    Outro túnel, conhecido como Túnel Novo, só foi construído em 1904 e um segundo ao seu lado bem mais tarde, ambos cortam o Morro da Babilônia.

    Desde os primeiros anos do século XVIII, muitas terras de Copacabana eram desmembradas em chácaras de variadas dimensões. Em 1779 Copacabana é integrada no sistema defensivo da cidade, para evitar a entrada de piratas, com a edificação de fortificações no Reduto do Leme do Forte do Vigia, no morro da Babilônia e o Reduto de Copa-Cabana, junto a Ponta da Igrejinha. Já existiam as baterias do Inhangá do Reduto do Leme.

    A pintora e escritora inglesa Maria Graham, em 1824, publicou o primeiro livro que mencionava Copacabana. Em seu livro Diário de uma viagem ao Brasil, a autora faz este relato: Depois que voltei, juntei-me a um alegre grupo num passeio a cavalo a Copacabana, pequena fortaleza que defende uma das baías atrás da Praia Vermelha e de onde se pode ver algumas das mais belas vistas daqui. As matas das vizinhanças são belíssimas e produzem grande quantidade de excelente fruta chamada cambucá, e nos morros o gambá e o tatu encontram-se freqüentemente.

    Jean Baptiste Debret, que veio ao Brasil como membro da Missão Artística Francesa, descreve, em 1834, em sua obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil:

    Vê-se no meio da areia a pequena igreja de Copacabana, isolada num pequeno platô, mais a direita um segundo plano, formado por um grupo de montanhas, entrando pelo mar e esconde a sinuosidade do banco de areia, cuja extremidade reaparece com sua parte cultivada, tão reputada pelos seus deliciosos abacaxis.
    Posto 6


    Copacabana
    Quando Copacabana não passava de um imenso areal, havia somente um acesso por mar, até alcançar a praia com vários alagadiços onde estariam antigas tabas de índios tamoios. Em 1855, nascia a ladeira do Barroso, atual Tabajaras e seu prolongamento a Rua Siqueira Campos.


    José Martins Barroso, proprietário de terras em Copacabana, mandou construir uma estrada de meia rodagem, onde pudessem transitar carruagens e cavaleiros em direção à praia, ligação que começava na Rua Real Grandeza, subindo a grota entre os morros de São João e da Saudade. Esta assim criada a segunda passagem que levava à Copacabana.

    Depois de muitas concessões que não deram em nada, a 16 de agosto de 1872, o Decreto 5.058 concedeu ao Barão de Mauá o privilégio, por 20 anos, para lançar cabos submarinos e explorar a telegrafia elétrica entre o Brasil e a Europa através da Brazilian Submarine Telegraph Company. Finalmente, a 22 de junho de 1874, o Brasil era ligado à Europa pelo cabo submarino. Nesse dia, por seus serviços prestados, o Barão de Mauá foi elevado a Visconde.
    Copacabana
    Praia das Pescarias
    Copacabana (Posto 6) em 1895. Vemos a recém-aberta rua Francisco Otaviano, morro Dois Irmãos e Lagoa. A casa à direita, na esquina da Francisco Otaviano, era o famoso rende-vouz de Mère Louise. No pequeno casebre em frente ficava o telégrafo a cabo que ligava o Brasil à Europa, inaugurado em 1874.
    Os trabalhos começaram num terreno desmembrado da Fazenda de Copacabana, na praia das Pescarias, atual Posto Seis. Entre cajueiros e pitangueiras foram construídas duas casas, uma por onde passava o cabo submarino e a outra, ao lado, para os funcionários, era a casa dos ingleses. De Copacabana, em junho de 1874, o Brasil passa a ser ligado à Europa por esse cabo submarino.
    Alguns anos depois, o Dr. José de Figueiredo Magalhães inicia um serviço de diligências para Copacabana, saindo da Rua São Clemente para a Rua Real Grandeza, em Botafogo, subia a ladeira do Barroso, hoje dos Tabajaras, até Copacabana. Já havia uma casa de saúde, com hotel anexo, em 1878, que o Dr. Figueiredo Magalhães mandara construir para atender seus pacientes.

    Empresa de Construções Civís
    Na década de 90, do século XIX, formou-se a Empresa de Construções Civis para lotear Copacabana. Essa empresa foi criada por Alexandre Wagner, seus genros Otto Simon e Theodoro Duvivier, junto com Paula Freitas e Torquato Tapajós. Em 1891, a empresa comprou as propriedades de Alexandre Wagner que iam das proximidades da ladeira do Barroso até o Leme, para abertura de ruas e construções de casas.
    A história de Copacabana começa com a inauguração do Túnel de Copacabana, a 6 de julho de 1892 (hoje Túnel Alaor Prata, mais conhecido como Túnel Velho), construído pelo engenheiro Coelho Cintra, gerente da Companhia Ferro-Carril Jardim Botânico.
    Posto 6
    Por muito tempo Copacabana foi habitada apenas por humildes pescadores que viviam em palhoças. Muitos homens e companhias de empreendimentos anteviam as possibilidades do bairro e apostavam nelas lançando loteamentos. Foi o progressivo entrelaçar desses loteamentos que deu o aspecto geometricamente ordenado às suas ruas.
    Um homem em particular, o doutor Figueiredo Magalhães, acreditava muito no futuro de Copacabana. Morador de uma chácara no bairro, desde o começo da década de 80, do século XIX, passou a apregoar os benefícios terapêuticos dos bons ares e mares da tranqüila Copacabana a seus pacientes.

    Para motivar ainda mais o público, as companhias interessadas, como a do Jardim Botânico, alardeavam as qualidades do bairro, mas alguns acionistas da empresa achavam temerário fazer circular bondes sobre terreno arenoso. Seus diretores, porém, argumentaram que "as duas praias de Copacabana e Arpoador são dotadas de um clima esplêndido e salubre, beijadas constantemente pelas frescas brisas do oceano, constituindo dois verdadeiros sanatórios e que como parte de uma cidade periodicamente dizimada por epidemias, rapidamente seriam procuradas pela população como nas cidades balneárias da Europa".
    Os primeiros anos do século XX foram de grande progresso para o bairro de Copacabana, quando foram instalados os primeiros bondes movidos a eletricidade para o ramal do Túnel de Copacabana até a estação Malvino Reis (atual Praça Serzedelo Correia). É construído um grande restaurante-balneário, no final da praia do Leme e criado o Grupo Carnavalesco o Prazer do Leme.
    Final da Praia do Leme


    Túnel do Leme
    Em 1906, 4 de março, é inaugurado o Túnel do Leme (atual Engenheiro Coelho Cintra) que ligava Botafogo à Rua Salvador Correia (hoje Avenida Princesa Isabel), com bondes de tração elétrica até a praça do Vigia (atual Praça Júlio de Noronha).
    Nesse mesmo ano, o prefeito Pereira Passos inicia as obras de construção da Avenida Atlântica, que até então não passava de fundo de quintal das casas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. A pedreira de Inhangá é arrasada e as calçadas são revestidas de mosaicos pretos e brancos, com desenhos em ondas, trazidos de Portugal.
    Copacabana
    Com as facilidades de acesso ao novo bairro torna-se moda ir à Missa do Galo, na Igrejinha de Copacabana. Uma grande novidade: é inaugurado o primeiro cinema do bairro, na Praça Serzedelo Correia. Nessa época, os habitantes das cerca de 600 casas do bairro podiam divertir-se na Cervejaria Brahma, no final do ramal do bonde do Leme, e no Cabaré Mère Louise, próximo à Igrejinha, que funcionava dia e noite e lembrava um cabaré de far west. É criada a paróquia de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima. No promontório da Igrejinha é colocada a pedra fundamental para a construção de uma fortaleza, atual Forte de Copacabana.

    Em 1910, dezoito anos após sua existência como bairro, Copacabana tinha 20.000 moradores que enviaram um abaixo-assinado à Prefeitura reivindicando a instalação de escolas, sanatório e praça para recreação infantil. A aviação estava em franco desenvolvimento e a praia de Copacabana era considerada um excelente campo de pouso, não só pela sua extensão de areia, como pelas ótimas condições de visibilidade para os pilotos dos aviões, que decolando da praia, iam fazer piruetas nos céus do Centro da cidade.
    Com a presença do presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, em 1914, junto à Igrejinha é inaugurado o Forte de Copacabana. No ano anterior, eram iniciadas as obras de construção do Forte do Leme (hoje Forte Duque de Caxias) no início da praia do Leme, no Morro do Vigia do Leme.

    Somente em 1915 foi assinado pelo prefeito Rivadávia da Cunha, o decreto determinando a separação de Copacabana do distrito da Gávea, apesar de sua criação em 1892.
    Forte de Copacabana
    Outro decreto de outubro de 1917 reconhece a denominação de Praia de Copacabana, nos seus mais de 4km de extensão, que tinha 45 ruas, 1 avenida, 4 praças, 2 ladeiras e 2 túneis.
    Os banhos de mar entram na moda e a Prefeitura resolve regulamentar o funcionamento dos balneários. Em 1917 o prefeito Amaro Cavalcanti, baixou um decreto regulamentando o uso do banho de mar:

    "O banho só será permitido de 2 de Abril à 30 de Novembro das 6h às 9h e das 16h às 18h. De 1 de Dezembro à 31 de Março das 5h às 8h e das 17h às 19h. Nos Domingos e feriados haverá uma tolerância de mais uma hora em cada período."
    "Vestuário apropriado guardando a necessária decência e compostura."
    "Não permitir o trânsito de banhistas nas ruas que dão aceso às praias, sem uso de roupão ou paletots sufficientemente longos, os quaes deverão se fechados ou abotoados e que só poderão ser retirados nas praias."
    "Não permitir vozerios ou gritos, que não importem em pedidos de socorro e que possam alarmar os banhistas."
    "Prohibir a permanencia de casaes que se portem de modo offensivo à moral e decoro públicos nas praias, logradouros e nos vehiculos".

    Depois do banho de mar matinal, todos iam beber seu copo de leite, ao pé da vaca, num estábulo da Rua Barata Ribeiro.
    Rua Barata Ribeiro
    Na administração do prefeito Paulo de Frontin é inaugurada a nova Matriz de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, no local onde estava a Capela do Senhor do Bonfim (atual Praça Serzedelo Correia). Tambem, no mesmo ano, em 22 de julho de 1919, foi inaugurada a nova Avenida Atlântica, com pista dupla e iluminação no canteiro central, o que embelezou mais ainda a praia. Dessa época datam os primeiros edifícios de apartamentos de Copacabana e o novo Forte do Leme (atual Forte Duque de Caxias).
    Os 18 do Forte
    Três anos depois, em 5 de julho de 1922, os revoltosos do Forte de Copacabana, atravessaram a Avenida Atlântica, em marcha contra 4.000 soldados governistas. Os amotinados pretendiam fazer um desagravo à prisão do marechal Hermes da Fonseca, ordenada pelo presidente Epitácio Pessoa.
    No começo do episódio eram 301 amotinados, no meio 29 e no final 19, dos quais 18 eram militares, a maioria no posto de tenentes, daí nasceu o termo tenentismo. Destes somente Eduardo Gomes e Siqueira Campos sobreviveram ao último tiroteio.

    Depoimentos

    "Av Atlântica, lindas casas construidas pelas familias Guinle, Dias Garcia, Paula Machado, imediações posto 03. Ainda hoje existe a casa dos Dias Garcia... Chateaubriand adquiriu por compra uma da familia Guinle. Nesta avenida existiu o Hotel Londres muito antes do Copacabana Palace. Na esquina da Atlantica com Santo Expedito moravam familiares de Olegario Mariano. A área hoje é ocupada por um restaurante usado para festas no carnaval. 1918/1925 época de minha referencia não existiam predios (arranha-ceu), somente casas. O primeiro edificio da Av Atlântica foi construido no final do Posto Seis, edificio Olinda, ali hoje é um hotel construido por Santos Dias (familia pernambucana).

    Na esquina da Av Atlantica com Barrozo, Posto Treis existia predio servindo assistencia publica como mais adiante uma escola publica. Ha um fato, acredito ocorrido 1919 a 1922, naufragio e/ou encalhe de um navio mercante cujos restos permanceram por muito tempo no local, era nas imediações hoje Copacabana Palace.

    Cinemas Atlantico e Americano. O primeiro, no quarteirão Barrozo/Figueiredo Magalhaes, o segundo defronte a Dias da Rocha (cinema mudo).

    Na esquina da rua copacabana / Barrozo existia a estação dos bondes da Light e ao lado Hotel Balneario. Copacabana era servida pelos bondes eletricos, dos tipos respectivamente apelidados por Bataclan e outro, inferior, de Taioba e, ainda, outro para carga fazendo entrega a domicilio.

    Na minha lembrança havia um hotel na rua copacabana bem afastado do parametro da rua, em cima da pedra usando um plano inclinado para locomoçãp dos hospedes. Possuia denominação estrangeira hotel dos inglezes, talvez. Ficava onde hoje tem a Praça Sarah Kubischek defronte da rua Almirante Gonçalves. Não tenho encontrado nenhuma referencia sobre a existencia deste hotel. Ali perto deste trecho morava o medico pernambucano Pereira Ernesto que foi, no governo Vargas, prefeito do Rio. Colegio; lembro-me da existencia do gymnasio brasileiro ocupando uma grande area e hoje é a Galeria Menescal.

    Há uma ocorrencia bélica no bairro de Copacabana (não se trata dos 18 revoltosos) mas do bombardeio de um navio de bandeira alemã, BADEN, que no dia 24 ou 30 outubro 1930 (vitoria revolução) zarpou do Porto Rio sem autorização da Marinha e desobedeceu as advertencias do forte do leme com tiros canhão sendo atingido na popa quando passava praia Ipanema Leblon. esta eu assisti e consta da historia do forte do leme. São coisas da memoria de menino. Agradeço seu reparo, Sylvio!" Sylvio Vasconcellos
    Em setembro de 1923, foi inaugurado com pompa, na Avenida Atlântica, o Copacabana Palace Hotel, considerado o mais sumptuoso edificio do genero que possue a America do Sul e um dos mais lindos do mundo.

    O hotel tornou-se um ponto de convergência da alta sociedade carioca e, dessa forma, os terrenos vizinhos ao hotel ficaram muito valorizados.
    Copacabana Palace
    No trecho das avenidas Atlântica e Nossa Senhora de Copacabana, próximo a praça do Lido, ergueram-se os primeiros edifícios de apartamentos, símbolos de um bairro moderno e elegante.

    O estilo art-déco surgia na cidade e foi imediatamente implantado em Copacabana que ainda existem até hoje, onde esse estilo se apresentou de forma mais expressiva nos prédios:

    Edifício Itaóca (Rua Duvivier, 43),
    Edifícios Tuyuti, América e Caxias (Rua Ministro Vieiros de Castro, 100, 110 e 116),
    Edifícios Ophir e Guahy (Rua Ronald de Carvalho, 154 e 181).


    Os moradores famosos começavam a surgir. A família do jornalista Mário Rodrigues - pai de Nelson Rodrigues, então com 12 anos -, instalou-se próximo ao Inhangá, em 1924, mudando-se dois anos depois para um espetacular palacete na esquina das ruas Joaquim Nabuco e Raul Pompéia. A sucessiva morte de uma filha de 8 meses, de um filho assassinado e do pai Mário, diz-se de desgosto, empurrou a família Rodrigues para a Zona Norte. Na obra do cronista e dramaturgo, a Zona Sul seria sempre uma filial do inferno. O tal palacete penou com a fama de mal-assombrado até ser demolido em 1960.
    Areal
    Copacabana ainda era uma planície semideserta, mas tinha um grande ponto de encontro. Em 1905, a casa de Afrânio de Melo Franco, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana reunia a intelectualidade daquela época, para conferências, escolha de candidatos e também política internacional. Desde o governo do presidente Venceslau Brás (1914), a casa de Mello Franco recebia todos os políticos importantes.
    Durante o período de interinidade do presidente Delfim Moreira (1918), o Governo da República ali se abrigou. A campanha de eleição de Artur Bernardes (1922) para a presidência e a luta de bastidores, desenrolou-se nos seus salões. Episódios políticos que precederam a escolha de Getúlio Vargas (1930) como candidato da Aliança Liberal, também ali aconteceram.

    Copacabana fez política durante décadas, porque muitos nomes que fizeram a história do Brasil escolheram o bairro para morar:

      Presidentes da República
    • Eurico Gaspar Dutra
    • João Fernando Campos Café Filho
    • Carlos Coimbra da Luz
    • Nereu de Oliveira Ramos
    • Juscelino Kubitscheck de Oliveira
    • João Belcjior Marques Goulart
    • Ranieri Mazzili
    • Emílio Garraztazu Médici
    • Tancredo de Almeida Neves
      Governadores
    • Carlos Werneck Lacerda
    • Magalhães Pinto
    • Leonel de Moura Brizola
      Ministros de Estado
    • Odílio Denys
    • Afrânio de Mello Franco
    • Henrique Teixeira Lott
    • Armando Falcão
    • Horácio Lafer
    • Lyra Tavares
    • Lucas Lopes
    • Otávio Gouveia de Bulhões
    • Otávio Gondin
    Eleita Miss Brasil, em 1954, a baiana Marta Rocha, que ficou em 2º lugar no concurso de Miss Universo, por causa de duas polegadas a mais, nos quadris. Hoje, ainda muito bonita e já tendo passado dos 60 anos, com três filhos e seis netos, Marta Rocha é ilustre moradora de Copacabana e diz que para manter a forma tem dois segredos: caminhar no calçadão da Avenida Atlântica e tomar água de coco.


    Na praça Vinte e Seis de Janeiro, atual Praça Bernadelli (mais conhecida como Praça do Lido, foi construído um pavilhão normando, em 1928, onde durante muitos anos funcionou um dos restaurantes mais elegantes da cidade, o Lido. Seus bailes de carnaval eram famosos e iam até às 11 horas da manhã.

    Em 1931, encontravam-se construídos vários prédios de apartamentos, naquela região. Esses prédios recebiam a denominação de palacetes- atribuição equivalente à das casas isoladas, dos palacetes das classes abastadas, como forma de conferir-lhes o mesmo grau de distinção que estes e tornado-os bem aceitos.

    O Palacete Duvivier, de propriedade de Eduardo Duvivier; o Edifício Itaóca; o Palacete Veiga; o Palacete São Paulo, a Casa Rosada; o Palacete Oceânico, são alguns destes prédios.

    Os apartamentos também deveriam oferecer bastante conforto e o mínimo de privacidade para que não se comparacem às habitações coletivas. Deveriam ter entradas nobres e entradas de serviço. As dependências de empregados deveriam ficar, o mais que pudessem, afastadas dos cômodos que serviam às famílias. Deveriam ter, pelo menos duas salas: a de visitas e a de jantar; saletas e quartos amplos. Materiais nobres como piso de mármore, decorações em gesso em alto relevo, cristais lapidados, lambris de madeira, eram indispensáveis.

    Os estilos arquitetônicos predominantes eram o Luís XV e o Luís XVI. Os ocupantes desses primeiros edifícios eram, geralmente, estrangeiros, que procuravam alugar os apartamentos sobretudo na época do verão. As famílias não precisavam se preocupar com empregados, pois os encarregados dos apartamentos se incumbiam de tudo- num tipo de serviço que poderia ser considerado o precursor dos apart-hotéis, que se instalariam no bairro, e na cidade, cinqüenta anos mais tarde.

    As crianças residentes nos apartamentos faziam das praças e da praia seus quintais. Os apartamentos Ferriri, na Rua Sá Ferreira no entanto, ofereciam opção de lazer, o que não precisava ser em espaços públicos: em seu terraço, os inquilinos desfrutavam de jogos de salão, balanços, bancos de jardins. As facilidades, porém, tinham um alto custo. Assim, ficava claro a sua destinação a pessoas mais abastadas.

    A implantação dos arranha-céus em Copacabana dividiu as opiniões dos moradores: para uns, os edifícios não passavam de casas de cômodos e pareciam verdadeiros caixões, para outros, eram uma onda de civilização. De qualquer forma, a quantidade de edificações como esta, era ainda pouco expressiva. Os prédios mais altos localizavam-se na Avenida Atlântica, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana e no Lido - os lugares que possuiam maior largura.

    Apesar de ainda existirem muitas casas, o surgimento dos pequenos e grandes prédios foram mudando rapidamente a fisionomia das ruas do bairro.

    Copacabana teve a sua paisagem marcada pelas construções em estilo art-decô, com a simplicidade das linhas retas, as janelas inspiradas em vigías de navio e guarda-corpos de ferro arredondado. Foi neste bairro que este estilo se mostrou de forma mais expressiva. Até hoje, podemos identificá-lo em alguns prédios: nos vastos halls, nos detalhes em ferro e vidro das portas, nos lereiros e luminárias, nos relevos sutis do concreto das fachadas, nas saliências e reentrâncias...

    A criatividade e as características desse estilo são marcantes. A grande flexibilidade da planta dos apartamentos possibilitava uma circulação interna tranqüila por todos os cômodos. O uso externo de revestimentos nobres, formando uma barra de proteção, resguardava as paredes em contato com a rua. As varandas e balcões com párapeitos de alvenaria, total ou parcialmente imbutidos no corpo da edificação, se destacavam. A boa qualidade dos materiais de construção utilizados e o uso de formas arredondadas, principalmente nos prédios de esquina, permitiram uma ótima conservação.

    O Copacabana Palace Hotel, com seu cassino, alçou a fama e a internacionalização do bairro. Em 1936, Noel Rosa cantava, em Tarzan, o filho do alfaiate:

    eu poso pros fotógrafos/
    e distribuo autógrafos/
    a todas as pequenas lá da praia de manhã./
    Um argentino disse, me vendo em Copacabana:/
    no hay fuerza sobre-humana/ que detenga este Tarzan!
    Havia outro cassino no bairro, inaugurado dois anos antes, o Atlântico, edificado onde antes era o Mère Louise (no futuro, estariam ali a TV Rio. Os cassinos atraíam personalidades do mundo todo até o dia 30 de abril de 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra baniu o jogo do país. O Copacabana Palace Hotel teve a glória de hospedar reis, imperadores, príncipes, presidentes do Brasil e de vários países, marajás da Índia, intelectuais, cientistas, artistas de todo o mundo e figuras respeitadas das mais diversas categorias.
    Começam a circular, em Copacabana, os ônibus da Light, em 1931. Por essa época, nos seus arranha-céus já existiam apartamentos de aluguel por temporada, destinados a estrangeiros e turistas que vinham ao Rio de Janeiro passar o verão na praia. O edifício Palácio Império, na revista O Cruzeiro, anunciava apartamentos mobiliados, restarante e garagem. Em 1938, na administração do prefeito Henrique Dodsworth, são concluídos os trabalhos de corte do morro do Cantagalo, ligando Copacabana à Lagoa Rodrigo de Freitas.

    A década de 40 viu Copacabana se firmar como bairro chique e sua vida noturna é dividida entre seus dois cassinos, o Copacabana, que pertencia ao Copacabana Palace Hotel, e o Cassino Atlântico, na Avenida Atlântica, esquina com a Rua Francisco Otaviano.


    Prova da importância do bairro, na Academia Brasileira de Letras de Janeiro de 1946 haviam vários Imortais morando em Copacabana

    Secretário Geral
    20 - Múcio Leao, Rua Fernando Mendes, 7, apt. 122 47-3717

    2o. secretário
    4 - Viana Moog, Rua Tonelero, 200 26-8564

    Bibliotecário
    39 - Rodolfo Garcia, Rua República do Peru, 380 27-6083

    Acadêmicos

    11 - Adelmar Tavares, Rua Raimundo Correia, 70 27-3661
    38 - Celso Vieira, Rua Gustavo Sampaio, 124, apto. 903 27-6133
    19 - Gustavo Barroso, Rua Sá Ferreira, 123 27-2895
    27 - Levi Carneiro, Rua Gustavo Sampaio, 92 27-4871
    21 - Olegário Mariano, Rua Pompeu Loureiro, 36 27-0639
    16 - Pedro Calmom, Rua Santa Clara, 415 26-0222
    Porém, logo depois de empossado, em 30 de abril de 1946, o presidente Eurico Dutra, em decreto, proíbe o jogo no Brasil. O Cassino Atlântico logo fechou as portas, por não ter um hotel de sustentação, como era o caso do Cassino do Copacabana Palace Hotel, que transformou o espaço para shows e outras atividades turísticas. E assim surge a nova boêmia em Copacabana, onde o seu templo maior (embora de curta duração e final trágico) foi a boate Vogue.
    Nessa época a vida noturna da cidade transfere-se definitivamente para Copacabana e o comércio varejista tinha 793 estabelecimentos, enquanto a população do bairro chegava perto dos 75.000 habitantes.

    Copacabana, a Princesinha do Mar, foi eternizada em música de João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro e gravada em 1946, por Dick Farney, tornando-se conhecida no mundo todo, com centenas de gravações. Os versos são:
    Copacabana


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    Naturalmente, com toda essa nobreza e afluência, duas grandes favelas já estavam nas encostas dos seus morros, desde a década anterior: a do Cantagalo e a da Babilônia. O bairro crescia, construções de casas e edifícios eram levantadas e de ruas abertas em direção do mar. Nas areias de Copacabana praticava-se todos os tipos de esportes: jogava-se pelada, peteca e o futebol de areia que deu origem a diversos clubes.
    Favela do Cantagalo
    Começam a se formar turmas de jovens no bairro que elegem esquinas e praças para as reuniões, onde criavam e mantinham as festas do carnaval e juninas. O ponto mais famoso dessas reuniões era o da Rua Miguel Lemos.

    O sistema de moradia em apartamentos levou à formação de grupos de jovens que moravam na mesma rua.

    As várias esquinas, até hoje, têm seus turmas de jovens. Nos anos 50 a mais famosa delas foi a da Rua Miguel Lemos, onde um líder se destacou, Cristiano Lacorte, que de sua cadeira de rodas movimentava o grupo, comparecendo a todos os eventos de Copacabana. No quarteirão eram - ainda hoje são - organizadas festas referentes a diversas comemorações do ano. No Carnaval crianças e adultos brincavam e continuam brincando na calçada, ao som de músicos especialmente contratados para os três dias de festas. Esses grupos se espalharam pelas ruas e não há Copa do Mundo de Futebol que não tenha as ruas decoradas por eles. Nas festas juninas são montados verdadeiros arraiás para a diversão dos moradores.



    Lambretas na Avenida Atlântica
    Lançaram e lançam modismos na música, nos esportes e na maneira de ser, como: o uso da lambreta, do blue jeans, o rock’n roll, esportes e a freqüência maciça aos cursos de línguas estrangeiras (na década de 90, cursos de informática).
    Copacabana tinha muitas livrarias e dava atenção especial aos programas teatrais e cinematográficos, tornando-se o bairro pioneiro no surgimento de cineclubes, concertos musicais e a ter platéia para as jam sessions, sempre com muito sucesso. Sem dúvida, foi um modo de fazer com que vivendo na vertical os jovens desenvolvessem uma convicção de equilíbrio nas diferenças de classes sociais.

    A década de 50 marcaria Copacabana com três acontecimentos importantes: o atentado a Carlos Lacerda, em 5 de julho de 1954; a morte de Aída Cury, em 14 de julho de 1958; o nascimento da Bossa Nova, em 1958 com a gravação do disco Canção do amor demais por Elizete Cardoso.


    O jornal O Globo noticiava em 29 de janeiro de 1954

    "Desde 1935, quando foi inaugurado o Cassino Atlântico, o Posto Seis, em Copacabana, tem sido um dos pontos de maior animação carnavalesca da capital da República. Atualmente, transformado em sede da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), o edifício da esquina da Avenida Atlântica com a Rua Francisco Otaviano continua mantendo a tradição de baluarte da alegria carnavalesca. Há duas semanas vêm realizando em sua boate os movimentados bailes "Sassaricadas" (das 14h às 20h), os quais terão prosseguimento, todos os sábados, até o carnaval."

    Atentado a Lacerda
    Carlos Lacerda era deputado federal, em 1954, no Distrito Federal, cuja capital era o Rio de Janeiro.

    O jornal O Globo noticiava em 24 de março de 1954

    "Lacerda e filho de aranha trocam socos

    Principiando por uma altercação seguida de luta corporal entre o Sr. Euclides Aranha e o jornalista Carlos Lacerda, um incidente que se prolongaria até a meia-noite, resultando, inclusive, em congestionamento do tráfego da Avenida Atlântica e interdição do local por autoridades policiais, perturbou na noite de ontem o jantar no Bife de Ouro, o restaurante do Copacabana Palace Hotel. Achavam-se reunidos na mesma mesa o ministro João Cleophas, o deputado Edilberto Ribeiro, o Sr. Manuel Ferreira e Carlos Lacerda, diretor da "Tribuna da Imprensa", num jantar promovido pelo deputado. De outra mesa, o Sr. Euclides Aranha, filho do ministro Oswaldo Aranha, jantava com a esposa, levantou-se, fisionomia transtornada, dirigiu-se à mesa onde se encontrava o referido grupo, deteve-se junto à cadeira do jornalista e interpelou-o sobre ataques dirigidos a seu pai na "Tribuna da Imprensa". À interpelação seguiu-se áspera troca de palavras, tendo o jornalista se levantado, entrando em luta com o filho do ministro da Fazenda. Segundo as testemunhas, os dois trocaram socos por algum tempo, até que amigos comuns se interpuseram e os separaram. Às 23h, o próprio ministro Oswaldo Aranha compareceu ao restaurante para ver o que ocorrera. Pouco depois, simultâneamente, por portas diferentes, os Srs. Euclides Aranha e Carlos Lacerda abandonaram o Bife de Ouro."

    O presidente do Brasil era Getúlio Vargas, eleito em 1950, de cujo governo Lacerda fazia oposição permanente. Depois de várias crises contra o governo de Getúlio Vargas, sempre muito atacado por Lacerda, este sofreu um atentado, na Rua Tonelero, em Copacabana, onde morava, por elementos da guarda pessoal do presidente. Lacerda foi atingido no pé, mas seu amigo major Rubem Vaz, da Aeronáutica, de quem se despedia na calçada do edifício Albervânia, foi atingido mortalmente. Desse episódio, desencadeou-se enorme desgaste para Getúlio Vargas, culminando com seu suicídio, em 24 de agosto de 1954. Foi uma comoção nacional.


    O jornal O Globo noticiava em 19 de maio de 1954

    "As mazelas de Copacabana

    Copacabana, que com sua maravilhosa praia, hoje célebre em todo o mundo, e a beleza alpestre dos seus limites do lado oposto do mar, bem podia ser um recanto do paraíso, há muito está, deplorávelmente, convertida num verdadeiro inferno. Começa por ser um bairro de densidade demográfica já excessiva, que conta apenas com duas vias de acesso. Mas, afinal, isto, apesar dos seus tremendos inconvenientes, não é o pior. Há a falta d'água, as ruas esburacadas, as calçadas impedidas por montes de material de construção e até por muros inconcebíveis, como, por exemplo, aqueles que se vêem na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre as Ruas Fernando Mendes e Rodolfo Dantas. Dir-se-ia que os citados muros se erguem absurdamente, incrivelmente, ali, barrando a calçada, para mostrar a quantos passam pela movimentadíssima avenida que tudo é possível em Copacabana.

    Tudo é, realmente, possível em Copacabana, tudo quanto é mazela. Talvez por isso, as autoridades municipais estejam despreocupadamente deixando que a praia mais famosa das Américas venha sendo transformada no mais imundo dos vazadouros. Causa engulhos o que se vê, ou, com mais exatidão e não menor repugnância, o que se pisa ali. Aquelas areias prateadas e magnificamente esplendentes ao sol estão pontilhadas do que há de mais nauseabundo. É que a praia de Copacabana passou agora a ser residência desimpedida de um dos maiores contingentes de vagabundos ainda concentrados nesta capital. Ali eles comem, ali eles dormem, ali eles fazem o que querem ou a natureza lhes dita, sem que apareça qualquer agente da autoridade para dizer-lhes que já é tempo de começar a sofrer alguma restrição a desmedida liberdade de que têm tão farta e repugnantemente abusado."
    Em janeiro de 1958, Rubem Braga, cronista conceituado, escrevera Ai de ti Copacabana, crônica na qual como um profeta do apocalípse, lamentava:


    Nara Leão, musa da Bossa-Nova
    A Bossa Nova nasceu na Avenida Atlântica, na casa de Nara Leão, onde a partir de 1956, jovens da classe média, como: Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli, Carlinhos Lira e outros, em torno de cervejas e sanduíches se reuniam para cantar.

    Porém o fato que marcou o aparecimento da Bossa Nova foi o disco gravado por Elizete Cardoso, em 1958, Canção do amor demais, cujo acompanhamento era feito pelo violonista João Gilberto, com uma nova forma rítmica, uma batida diferente, logo batizada de Bossa Nova. João Gilberto tornou-se depois cantor e o papa da Bossa Nova, reconhecido no mundo inteiro.


    Em 1955, foi inaugurado o primeiro supermercado com auto-serviço, o Disco (atual Pão de Acúcar), na Rua Siqueira Campos. Nesse mesmo ano, um incêndio determinava o fechamento de um dos mais famosos hotéis de Copacabana, o Vogue, na Avenida Princesa Isabel, cuja boate Vogue era frequentada pela alta sociedade carioca.

    Dois anos depois o Rock and Roll é lançado no Brasil, justamente em Copacabana, no Copa Golf onde hoje é o Shopping Cassino Atlântico. Do Leme ao Posto Seis, Copacabana torna-se definitivamente centro de lazer da cidade. Havia 06 cinemas, o Bob’s, a varanda do Hotel Miramar, a Colombo, a piscina do Copacabana Palace, as missas do Padre Barbosa, a Americana, o Bar do Frederico (no andar térreo da boate Fred’s) e o Scaramouche (em frente ao Bob’s). O roteiro da noite incluía 36 restaurantes, 4 teatros, 3 lanchonetes (snack bars), 2 clubes e 20 boates (night clubs).

    Depoimentos

    "Fui músico da boite Fred´s (baterísta do conjunto do pianista Antonio Guimarães). Não vejo nenhuma referência a esse grupo musical que inaugurou aquela casa de espetáculos. Ary Barroso passou por lá com o cantor Ernani Filho. Mas um personagem da noite poderia ser mais lembrado, pela sua importância: Pedro das Flôres. Vestido a rigor, ele distribuia flores pelas mesas. Era queridíssimo por todos. Distinto, não cobrava deixando por conta do cavaleiro o receber ou não alguma ajuda em dinheiro." Fernando Mendes de Oliveira
    Com o alto padrão econômico da população de Copacabana expandiu-se o transporte individual que dividia, com dificuldade, o espaço de acesso ao bairro, com ônibus e bondes. O desenvolvimento da indústria automobilística, recém criada no Brasil, fez com que a construção de prédios com garagens e estacionamento. As famílias de classe média cuja aspiração era atingir um status convencionado pela sociedade de então, procurava morar em Copacabana, mesmo que fosse em pequenos apartamentos.

    Sempre havia um mocinho bonito que fazia musculação, mostrando os músculos ao usar camiseta apertada e era a imagem do jovem pobre, que procurava uma vida melhor, morando ou freqüentando o bairro.
    Avenida Atlântica Anos 50
    Essa imagem foi captada por Billy Blanco em samba gravado por Doris Monteiro, lançado em 1957, Mocinho Bonito:
    Mocinho bonito,
    perfeito improviso de falso granfino,
    no corpo é atleta, no crânio é menino,
    que além do ABC nada mais aprendeu;
    queimado de sol,
    cabelo assanhado com muito cuidado,
    na pinta de conde se esconde um coitado,
    um pobre farsante que a sorte esqueceu.

    Contando vantagem,
    que vive de renda e mora em palácio,
    procura esquecer um barraco no Estácio,
    lugar de origem que há pouco deixou.
    Mocinho bonito,
    que é falso malandro de Copacabana,
    o mais que consegue é "vintão" por semana,
    que a mana "do peito" jamais lhe negou.

    " Ipanema " Historia

    O Bairro de Ipanema nasceu com a fundação da Vila Ipanema, em 1894. Seu nome foi dado em homenagem ao Comendadro Moreira filho, 2o Barão de Ipanema ou a seu pai Barão e Conde de Ipanema, que junto a seu sócio o Coronel Antonio José da Silva se incumbiram de urbanizar a área. Em 1902, os bondes chegaram a Vila Ipanema, onde hoje se encontra a Praça General Osório, mas ainda nesta época, a Vila contava com 118 residências, e seus moradores tinham que enfrentar alagados e a existência de vários focos de mosquitos. A Praça Nossa Senhora da Paz, antiga Coronel Valadares, deve seu nome à Igreja confiada aos franciscanos, construída com a indenização paga à Cúria pela demolição da Igrejinha de Copacabana.

     


    Diversas ruas de Ipanema tiveram seus nomes dados em homenagem à família do sócio do Barão, como: Dario Silva atual Aníbal de Mendonça; a Pedro Silva, atual Garcia D'Ávila; a Otávio Silva, atual Maria Quitéria; a Oscar SIlva, atual Joana Angélica e a Irineu Silva, que deixou de existir; todos sócios de empreendimentos imobiliários da urbanização das áreas que deram origem ao Bairro. Outras ruas homenageavam amigos do Barão, como: Alberto de Campos, genro do Barão; a Montenegro, outro genro do Barão que é a atual Vinícius de Moraes. A Rua Visconde de Pirajá já se chamou Rua 20 de Novembro, também em homenagem ao Barão.





    Em 1922, o Prefeito Carlos Sampaio, foi incumbido de preparar a cidade para as comemorações do Centenário da Independência, nesta época os nomes das ruas foram mudados, para homenagear brasileiros que tiveram participação ativa nas lutas pela Independência. Atualmente o Bairro é local de residência de pessoas abastadas, tendo apartamentos de alto luxo, principalmente na beira-mar, que juntamente com o Leblon forma a região de residências mais caras da cidade. Ipanema é um dos Bairros mais sofisticados e elegantes do Rio de Janeiro, possue shopping-centers, cinemas, lojas de estilistas internacionais, bons restaurantes, lojas de comércio fino e galerias de arte.